Sunday, July 22, 2007

Aspectos positivos da depressão.

Embora seja um mito, o mal do século (passado, creio), a depressão tem suas várias faces, varias representações.
Lembro do Lama Samten dizendo algumas palavras que mudaram bastante o que eu pensava a respeito das emoções, dos estados de espirito. Ele dizia, em outras palavras, para aproveitar muito bem o estado de espirito da depressão ( e os de euforia, de raiva, de ciume, vaidade, etc), por que no momento em que ele brota com toda sua força é a melhor situação para enxerga-lo com a luz da sabedoria, da meditação, entende-lo e possivelmente dissolve-lo ao realmente confronta-lo.

O lama dizia que a emoção é uma energia que inconscientemente escolhemos agarrar, incorporar a nós mesmos em relação a situações da vida, mas que são energias livres, autoliberadas, se deixarmos elas partirem elas vão. Mas para isso é preciso meditar.

Meditar é outro mito. Diferentemente do que muitos pensam não é ficar matutando sobre um tema, dialogando consigo mesmo, e alem do mais, não é ficar parado impedindo a mente de pensar. Meditar é estar realmente presente, realmente atento ao seu objetivo, livre e pleno.

Meditar sobre a depressão é uma tarefa um tanto sofrida. É dificil encarar profundamente o que incomoda, nossas historias, nossas dores. Temos toda uma sorte de artificios, estrategias, defesas, para usar nesses momentos e nos afastar das dores.

Embora supervalorizadas, intensas e desagradaveis, as dores se fundamentam em questões reais, em coisas mal resolvidas, em sonhos inacabados, em idealizações vãs. Se, no momento que estamos extasiados de felicidade olhamos para elas com desdém, quando estamos tristes sucumbimos a elas. Nota-se um aspecto de mobilidade, atração e repulsa, um aspecto de escolha em relação aos conteudos internos no nosso próprio ser. Uma liberdade.

Liberdade, talvez seja o verdadeiro exercicio de meditar, tornar-se livre através da sabedoria de enxergar com nitidez os processos que regem nossa vida, e talvez, mais além superar a prisão da propria identidade e enxergar que o que somos é mais alem do que a nossa identidade, e si, somos o todo, não há separação. Muito dificil encarar isso.

Falar em iluminação mudou bastante desde as minhas experiencias com o Ayahuasca. Pude ver como é dificil transcender quando se tem um emaranhando de emoções fortes prendendo-nos a identidade e ao mundo de coisas e relações que nos pertence, que criamos a partir do que aprendemos, do que ganhamos, do que imaginamos e criamos, e do que armazenamos na memória e elaboramos. Vi como é dolorido ver tudo isso. É dolorido se ver em Samsara, se ver condicionado ao sofrimento pela ignorancia, muito dolorido e sofrido. Mas necessário.

Comecei esse texto com o intuito de elaborar, de dizer para mim mesmo que é preciso me deprimir e aceitar que tem coisas que não podem ser como eu quero, que eu devo abrir a mão e deixar ir embora mesmo. Soltar e deixar voar. Para isso preciso encontrar, achar, ver em toda sua intensidade, em toda sua energia. Isso é valorizar a depressão pra mim nesse momento.

Não quero citar o nome dela aqui, não precisa. Preciso claro diferenciar ela de todas as outras, das paixões e dos afetos comuns, e bons. Tenho isso com uma série de pessoas, e gosto. Coisas que ora vem, ora vão. Mas aqui me refiro a uma pessoa que eu primeiro cuidei, depois amei, e depois me apaixonei, sendo que nesse vai-e-vem da nossa história, o qual apenas puxo a minha metade da laranja, fui cuidado e amado, não tendo certeza da paixão, enfim, embora tenha lindos sorrisos guardados dos dias que estivemos juntos e nossos rostos colados.

Há historias na vida que se desenvolvem fora do alcance e do funcionamento habitual do tempo. Sua trama invade o inconsciente, se espalha por tudo e você se vê impotente diante dos seus sabores impregnados no âmago do teu ser, e ai você rema, rema, rema contra elas e não dá. Ai voce rema, rema, rema a favor, e ai a maré muda e não dá. Ai voce fica sentado numa pedra observando o redemoinho, já nao sabe mais apaziguar o mar para voce remar livremente pra onde queria. Tudo isso.

Ai você resolve tentar quando o mar está calmo, tenta seguir outro rumo e o mar traiçoeiro acaba te puxando para a correnteza. Voce vai lá disposto a remar contra ou a favor, e nao chega a lugar algum novamente.

Bom, meu texto ta bem confuso, fiz todo um emaranhado pra dizer que eu resolvi desistir. Resolvi vestir a roupa de mergulho e ir fundo no mar para me livrar dessa agitação. Lidar com as minhas memórias, meus sentimentos, a figura da minha amada em mim, sua existência autonoma dentro do meu mundo.

Não gosto da sensação, é como estar comandando um pelotão de fuzilamento, apontando as armas para um alvo que me gerou coisas tão lindas e boas, mas que agora é preciso que cesse. que morra em mim, para que eu renasça.

Minha sorte no orkut de hoje dizia "Não prometa o que não pode cumprir".
Minha carta no tarot dizia para evitar falar o que eu vou fazer antes de fazer.
Fui até ao I ching perguntar se devia publicar isso que eu escrevi. Ele foi misteriosamente sábio.

Me incomoda muito ferir as pessoas, então as vezes deixo para dizer as coisas que sinto apenas para mim mesmo, o que acaba me intoxicando demais. Tudo na vida é carregado de dor e amor, por isso encerro dizendo que isso tudo me deixa muito triste. Uma tristeza que vou deixar vir e vou meditar.

1 Comments:

At 21 July, 2011 12:19, Anonymous Anonymous said...

é.. é bem assim.. se tenta, mas dificil vencer só. E pior, quem pode ajudar? Quem vai entrar em minha cabeça e me guiar na impossibilidade de reerguimento? Os olhos nao brilham mais e a luz já fere os mesmos olhos que antes lampejavam na alegria da conquista e satisfação. Agora... não mais...

 

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