Estimação
Desde criança tenho uma predisposição a gostar mais de gatos do que cachorros. Lembro do meu primeiro animalzinho até hoje, chamava-se Mimí e sumiu misteriosamente. Não lembro exatamente a idade que eu tinha, talvez uns 4... Esperei uns bons anos que ele voltasse, e claro...ele não voltou (algumas coisas se repetem na vida de um sujeito...). Deixei isso pra lá quando ganhei a segunda edição do Mimí, um gato brasino bonitão, charmoso que saltava do telhado para a arvore com uma desenvoltura que nem o melhor ginasta olimpico sonha em ter. Eu tinha uma adoração por ele. Morreu tragicamente no ano de 1993. Gatos costumam morrer de forma trágica, mas pouparei-vos dos detalhes.
Tive alguns gatos entre esse glorioso Mimí e o adorável Mio, outro gato brasino. Áh...que saudades do gato Mio.
Aprendi alguma coisa na infancia sobre a personalidade dos felinos. Uma delas é: não tente adotar um gato adulto na marra, portanto nunca aceite um gato adulto de presente. Diferentemente dos cachorros, eles são completamente avessos a novos amigos, donos, enfim... A Mél era uma gatinha branca com preto e fugiu com um mês e tanto...o Tião, um gatão amarelo não me deixou tocar nele sequer uma vez... Logo que chegou ao patio pulou para o vizinho e ficou em cima de um muro por longas horas sem que ninguem pudesse tirá-lo de lá. Foi a ultima vez que o vi.
O gato Mio veio pra minha casa quando eu tinha uns 7 ou 8 anos... como eu tenho memória de elefante, ou de alemão (como alguem já me disse), lembro bem do primeiro dia daquele mini-tigre de dois meses. Na verdade ele chegou de noite, numa caixa de papelão como todo filhote de qualquer especie que chega numa casa de familia, e, logo que o soltamos, ele correu pra baixo da mesa, assustado. Tentei chamá-lo mas era impossivel pegar. Minha mãe disse pra deixar o bicho se habituar... fiquei de longe vendo, ele saiu, miou procurando sua mae, seus irmãos. Pensando bem é uma crueldade sem tamanho adotar um filhote, mas buenas...
Lembro que mais tarde, já naquela noite minha mãe conquistara o bichano e tinha-o no colo ronronando alto e feliz da vida recebendo um cafuné.
O gato mio era muito dado...gostava de carinho no queixo, coisa que depois descobri que não é todo gato que gosta...ronronava feito um trator! Era magrelo e chegado num cafuné. Miava na porta pra entrar ao invés de dar a volta no patio, era preguiçoso. Como todo gato varão, voltava sem uns nacos de carne quando ia atrás de uma gata. Quando ficava com fome volta e meia furava um saco de ração, não era muito de esperar!
Aos meus 11 ou 12 anos ganhamos um husky marrom de nome lobo, era um tantinho só maior do que o gato, se escondia atrás da pia e atravessava para o pátio numa esquadria de janela do tamanho dum azulejo de banheiro. Virou amigão do Mio...
O Lobo foi o meu primeiro e único cachorro, e o gato Mio foi o meu ultimo gato. Conviveram juntos por uns 2 anos. Quando o lobo era filhote ambos rolavam brincando, e depois que cresceu ele cruelmente engolia a cabeça do gato, que ficava todo babado... coisa de cachorro e gato, quem vai entender? O gato dormia em cima do cachorro, as vezes dentro da casinha dele. Tenho uma foto disso, pena que o scanner nunca me obedece pra eu postar.
O gato mio certa época ficou doente e passou a nao controlar bem os proprios esfincteres, sujando um tantinho aqui, ora ali... até que um dia fez uma cáca daquelas na cama dos meus pais, e desde lá nunca mais o vi, é uma historia eternamente mal contada. Sumiu ele e a empregada, que pela teoria da epoca, teria arrumado a cama e fingido que nao viu. Dona Odete...cozinhava mal que só ela, ao menos em alguma coisa eu precisava me dar bem nessa historia.
Curiosamente o Lobo passou a matar gatos depois disso, creio que uns 15 no minimo foram vitimas do instinto apurado para caça do animal, incontaveis passarinhos, algumas galinhas e um porquinho da india também tiveram suas vidas abreviadas. Ele passeava solto, e portanto nós fomos cúmplices de seus crimes. Alias, nos verões em Atlantida Sul ele passava o tempo todo solto, era um rei...bons tempos aqueles, desses que nao voltam mais.
Nem o cachorro lobo volta mais, numa fatidica noite ele saiu para sua banda noturna e nunca mais foi visto. Como ele era um Tom Cruise entre os cachorros, deve ter sido roubado e posto em algum canil. Foi dolorido, até hoje sinto falta dele. Aquele bicho faltava apenas falar. Alias ele até tentava, juro.
Hoje em dia moro em um apartamento e não tenho mais bichos. Mal e mal temos algumas plantas por aqui. Pra ser sincero nem as moscas aparecem aqui no decimo andar. Acho estranho, as vezes bate saudade dos tatu-bolas e das formigas. Essas historias moram no passado, de outra vida que vivi nessa mesma. Eu que esses dias quase morri incendiado e que a partir de fevereiro quero iniciar um novo quarto de século em Sydney, criando novas historias pra contar. Novos passados que ainda moram no futuro.
Não que eu seja muito saudosista, na verdade não costumo ficar pensando no passado. Meu mau habito mental é ficar conversando com as pessoas em pensamento ao invés de dizer as coisas diretamente como qualquer ser humano mais normal. Acho que é por que algumas pessoas não gostam muito de ouvir...
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Comecei a escrever sobre meus gatos querendo chegar numa conclusão que não tem nada a ver com eles, mas com relacionamentos, com pessoas, ou com a minha pessoa e esse gosto por seres ariscos, belos, e quicá inalcançaveis... que eu não consigo evitar.
Conheço muita gente que não gosta de gatos, muito mais do que gente que não gosta de cachorros, geralmente esses ultimos não gostam nem deles nem de gatos, nem de ninguem eu acho.
Acho que as pessoas que nao gostam de gatos assim o são por que querem criar relacionamentos com os gatos como se eles fossem cachorros, ou pessoas. Os gatos não são assim. Não são fiéis, previsiveis, não tão sempre lá, à disposição... e também não enchem muito o saco. A meu ver tudo o que eles fazem é bonito, tirando cocô no tapete (mas tendo um pátio com grama eles automaticamente sabem onde devem fazer e ainda enterram!). São bichos perfeitos no seu jeito e temperamento, as pessoas é que se comportam de forma errada diante deles. Os cachorros mansos costumam dar bola, aceitar cafuné e ficar enchendo o saco, alem de sempre serem meio fedorentos. São ótimos tambem... mas é outra pilha.
A moral é a seguinte. Não corra muito atrás dos felinos! Se você depender do amor e atenção deles, você sempre vai se sentir abandonado e entristecido. Admire-os, goste deles e faça bom proveito quando eles tiverem mais entregues, dados, de resto mire de longe, como uma obra de arte. Chame-os com um psss psss, e se eles vierem, curta o momento e deixe-os irem embora depois. Há seres que não querem ser agarrados por você, paciência.
E foi assim que eu desmanchei um grande nó no meu peito, e obviamente agora não falo de animais de estimação, embora ainda seja sobre uma bonita duma gata. Ela é assim do jeito dela, nunca vai mudar... não foi feita pra me fazer feliz. Então, quando eu vê-la, vou fazer um pssst psst, se ela quiser vir me dar um oi, um carinho e ir embora, eu vou gostar... se quiser um cafuné e um colo eu não vou negar, se ela ficar na dela, fingir que não ouviu ou que não viu... eu não vou dar muita bola e vou seguir o meu rumo.
Afinal de contas eu sou meio felino também :]
Mas pra encerrar, eu vinha caminhando hoje no fim da tarde me veio uma frase:
"Os felinos são ariscos e se protegem por que sabem o quanto são frageis"
Talvez seja isso!
3 Comments:
Prefiro cães!
Mas ótima a associação: felinos & humanos. Céoos, como me identifiquei! Apesar de achar que sou mais um estilo "cachorro", que enche o saco por uma brincadeira a mais! :P
Pensarei na campanha pró-barquinhos de papel!
E Adorei esse blog, me senti bem aqui sabes?! :) voltarei! :*
Resultado:
Isadora fala: -"Diz pro teu amigo que ele pode me comparar com qualquer pessoa, menos com aquela atriz!"
haha! não me pergunte o por quê! :)
Post novo, djá!
Ou protestarei: unirei multidões de pessoas nuas nas ruas de Porto Alegre, gritando e quebrando as vidraças...
Que tal?
oiuhueiuehue. :*
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