Thursday, May 17, 2007

Mito

Disse o viajante ao fogo, enquanto o fogo dirigia a ele a dança de sua luz:

"Vim para ver se não esquecia a mim mesmo de vez, nesse vendaval de silêncios! Pra não morrer antes de viver... Só vi lamento nas ultimas pastagens, vi o principio da ordem no limite do caos."

"Vi que a paz das geleiras é forçada pelo frio que imobiliza suas juntas. E vi que a dança do fogo só arde nos que carregam a solidez da carne."

"Ouvi o som do silêncio e a confusão da cidade. Senti o ruido circular e o ruido progredir. Servi ao som mais simples e me perdi no solitario narcisico do mais complexo."

"Optei dar vida ao som, e agora desejo um mestre. É minha mente você diz. Onde ela está, senão em ti, senão no que toco, no que ouço, no que gozo e no que rejeito? Fogo, me pedes pra não tirar a atenção de ti por um só instante, e nesse surto, reconheço as memórias de éons nas sombras. Se tenho tua luz, só posso estar no caminho certo."

"Purificai meus gestos e me dá as chaves do simbolico. A vasta mandala por trás da linguagem. O oculto soar do tambor no ventre. O coração emanando o pulsar. Se no profundo caos eu me achar, e tua luz me iluminar, prometo doar meu som a quem no frio e na dor agonizar."

O fogo seguia a dançar. A fumaça do incenso formava um espiral. Os tambores soavam, mecanicos nas caixas de som, carregavam demonios de outros tempos, que riam, riam, riam dos tempos medonhos de hoje em dia. E assim seguiu o mito da musica e do homem que falava com o fogo.
Eternamente, por uma noite.

1 Comments:

At 18 May, 2007 16:10, Anonymous Anonymous said...

O eterno é a gente que faz!
Smack

 

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