Sobre os dias pacificos

Adoro dias pacificos.

Ontem acordei no meio da noite, desesperado. A mente estava um caos, um flashback dos piores momentos do ritual do chá. Nisso me lembrei que eu nao deveria me desesperar, devia relaxar e me perder nas ondas da experiencia, já que outra hora eu voltaria ao funcionamento habitual.

Por sinal, esse fim de semana tive o prazer de tocar com o Felipe e com a Helena, foi uma meditação sonora linda, acho que um dos momentos mais lindos que a musica já me proporcionou. Estar novamente no famoso "estudio mistico" depois de quinze dias, após a ultima vivência com o ayahuasca foi muito proveitoso, as imagens e o fluxo de consciencia ampliado do chá ainda rondava aqueles ares, e os elementos que se repetiam favoreciam a memória daquele momento único. A mesma vela, os mesmos violões, o mesmo pianinho, o mesmo tambor. O mesmo irmão, e a presença feminina importante da Helena. Foi lindo, calmo...suave.

Hoje terça feira acordei indisposto mentalmente a cumprir minhas atividades, e (carregando uma indevida culpa) me recusei a ir ao CIEC, na verdade tinha de ir ao banco pagar umas contas o que de fato fiz. Almocei com a minha mãe, e pude orientá-la em umas questões internas, para que ela pudesse refletir a respeito do seu papel no mundo. Ela tem mania de ocupar-se dos problemas intimos alheios, o que não é positivo ao meu ver. Não devemos julgar compreender o outro, nunca o faremos...apenas em parte. Cabe a cada um compreender o que SENTE em relação ao outro, o que o outro mexe. O que se sente a respeito da PRÓPRIA vida, e neutralizar-se dos julgamentos.

Hoje a tarde tive o desprendimento de sair pra caminhar. Fui primeiro pagar a primeira parcela do retiro budista que farei agora (de 9 dias), e depois me deixei vagar pelo shopping a observar o mundo, matutar...e me observar funcionando. Disso cheguei a conclusões interessantes...

Me sinto bem a vontade no shopping, acho um ambiente alegre, mas não olho vitrine alguma...nunca...não tenho vontade de comprar coisas. Gosto de ir ler na Saraiva...e se gosto do livro tenho vontade de comprar...

Nesse movimento entrei na Saraiva então, bem sereno e tranquilo...selecionei uns livros, e acabei me fixando em dois. O TORNAR-SE PESSOA do Carl Rogers, e um do Nietzche, sobre pedagogia, que eu esqueci o nome.

Comecei a ler o do Rogers, seu livro mais famoso, e é recheado com uma sinceridade e pureza raros em uma obra de psicologia (exceto as obras budistas). Trata-se disso, de se ater a viver a vida de forma autêntica, de conectar-se com o que se sente, de seguir a própria trilha, independente dos julgamentos alheios. Ele conta como desenvolveu a sua psicologia, chamada de ACP - Abordagem Centrada na Pessoa, na qual ele sequer considera-se um psicologo, restringe-se ao termo de FACILITADOR, pois apenas ajuda a pessoa a tornar-se verdadeiramente ela mesma.

Nisso matutei um pouco depois de ler, e fui ver se achava uns livros sobre a Ayahuasca. Achei um no terminal e nada de achar na estante (A saraiva é fogo...), mas ai meus olhos viram o livro do Nietzche.

Eu nunca havia lido Nietzche...e uns anos atrás tinha até medo dele. Minha visão já era um tanto pessimista e catastrofica, só faltava algum pessimista convincente para que eu me reisgnasse de vez...então me abstive.

Recentemente conversando com um sábio colega de clínica, o Jonatha, fui convidado por este a participar de um grupo sobre Nietzche, que ele organiza. Ele me disse, também, que o pensamento de Nietzche tem muitas coisas semelhantes com as do Budismo, e nisso entramos em uma otima e perturbadora conversa.

Pois bem, li o Nietzche... e me surpreendi que, em um tom um tanto mais resignado e raivoso, ele dizia a MESMA coisa que o Rogers no outro texto...de que o caminho para a realização é indescritivel, porém é unico para cada ser, e a atitude mais corajosa que um ser humano pode tomar é trilhar o próprio caminho, vivendo autenticamente o que brota em sua miraculosa oportunidade de estar vivo.

E é verdade.
Embora...

... o chá me tenha mostrado o quanto de coisas que permeiam o viver, e o quanto as coisas são integradas, mente e matéria unem-se, se é que separam-se em algum ponto.


É fato que...

...a constituição de cada um e a visão de mundo é muito diferente, e em essência, não sabemos porcaria nenhuma a respeito de nós mesmos, de onde viemos e pra onde vamos. Quando entramos nesse mundo eramos outra coisa (um bebê), e sequer lembramos de como eramos. Nesse meio tempo construimos uma pá de ilusões, uma auto-imagem, uma dependência a infindaveis coisas impermanentes e imprevisiveis, e em menos de um século, após uma pá de mudanças que nos fará ser pessoas tão diferentes de hoje que sequer lembraremos do que eramos nesse juventude...morreremos e viraremos alimento para a terra e seus devoradores de cadaveres de outras espécies.

Trágico?
Por que?
São apenas emoções
A coisa não é má
nem boa.
Os bons vao para o céu
Os ruins para o inferno
E os sábios atingem a liberação do bom e do mau.

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(OBS especial:
Vejo, pelas letras brancas e fundo azul
Que sofres...querida
Sabes onde me achar se quiser ajuda)