Tuesday, August 08, 2006

Pensando a vida sob perspectiva kármica

Estou acabando de ler O Senhor da Dança, a autobiografia de Chagdud Tulku Rinpoche, o santo lama que fundou o Khadro Ling, o templo budista de três coroas. A obra é basicamente de memórias do Rinpoche sobre Infancia, Aprendizado, Exílio na India, porém fascinante.
O prisma pelo qual os tibetanos percebem a vida é bem diferente, recheado do que chamamos de misticismo e magia, e dentro dos relatos, coisas inacreditaveis acontecem, como lamas que escolhem morrer instantaneamente para poupar a vida de outras pessoas, e o seu corpo ao invés de putrefar-se torna-se um arco-iris, ou práticas lamaisticas que controlam o tempo e as chuvas.

O karma, para o budismo é uma tendência que provém da natureza ultima, o vazio...todos os seres provém do karma. Dessa tendencia natural de toda ação gerar uma reação, ou uma teia de reações, surgem os fluxos de consciência que navegam por essa teia, construindo seus mapas e seus mundos coletivos, construindo e vendo desabar os castelos de areia, condensando corpos e experimentando forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência individual através de um processo ciclico e repetitivo de existencia chamado Samsara.

A natureza ultima, Dharmakaya (ou mente búdica), porém segue presente, imóvel e imutavel na essência de todos os fenomenos que surgem dela, por isso se diz que tudo é búdico, tudo parte dessa natureza pura. A ignorância, causa maior da vida samsárica, não nos permite ver a natureza mais profunda que contém tudo, e ao mesmo tempo é vazia. Por isso é representada como uma pessoa cega andando de bengala, sem luz alguma circulando no mundo.

Bom, não intento aqui entrar mais profundamente no tema, por que nem saberia faze-lo de maneira muito compreensivel, por que na verdade, ainda tateio pelas paredes buscando compreender bem esse assunto. Na verdade, minha intenção maior é pensar na praticidade da vida cotidiana.

O local onde nascemos é consequencia do karma, e acreditem ou não, já estamos circulando a muitas eras pelo samsara, e o Buda Shakyamuni certa vez disse que as gotas de lagrima que choramos ao longo das nossas existencias anteriores somam mais volume de agua do que os oceanos da terra. Local onde nascemos eu me refiro a uma maneira mais ampla: Familiares, local geografico, caracteristicas fisicas e caracteristicas psiquicas.

As caractersiticas na nossa familia que mais nos incomodam foram exatamente o local onde criamos para existir dessa vez, e todas as experiencias que vivemos, sejam boas ou ruins, provém da nossa trilha. Portanto ao invés de somente nos contaminarmos com o desejo e repulsa que esses vinculos nos despertam, devemos estgar puramente atentos para entender o sentido dessa existência que criamos, e poder transcender esse passo e gerar ao menos uma existência mais prospera no futuro, mais proxima da sabedoria primordial. A existencia humana é prospera para tal despertar, e segundo os lamas budistas, é rara de se atingir, e como todos ja notaram, é curta...e nao é garantido que voltaremos a viver dessa forma nos proximos giros da roda da exist6encia.

Todos vocês, imagino, que já se pegaram reclamando das coisas, da vida, de limitações, de problemas com a familia, de insatisfação nos relacionamentos, de depressão e medo. Assim como já se deliciaram com os prazeres da vida, com a satisfação de estar momentaneamente bem ao adentrar um relacionamento feliz, ao devorar um doce, ou a descansar após um dia duro de trabalho. Nosso movimento humano é muito parecido, por termos um karma coletivo compartilhado, em suma, geralmente buscamos entrar pela primeira porta que estiver escrito FELICIDADE em cima, e, ao ignorarmos a primeira verdade do budismo, chamada DUKKHA, que diz que todo objeto ou situação de felicidade em que nos apegamos carrega consigo as sementes da insatisfação e infelicidade, que buscaremos repulsar.
A consequencia? Saimos como que chutados do reino dos deuses para o reino dos infernos, e caimos no aspecto ruim do que anteriormente era a pura satisfação e gozo.

Assim o grande romance logo perde seu fogo
A jovem beleza logo torna-se insuportavel velhice
O belo palácio logo torna-se ruina
A prodigiosa carreira logo torna-se doença e fracasso.
O castelo de areia é sempre destruido pelas ondas do mar, embora os olhos recusem-se a olhar o mar se aproximar.

Dramático, para os nossos bem cultivados EUS...nossa identidade particular nessa vida, em nosso devaneio poético de sermos sólidos e duráveis. Porém, o eu dissolve-se logo após a morte, e logo após os elementos agregados que nos formaram dissolverem-se, navegamos no estado intermediario entre um renascimento e outro sem sequer referencias a nós mesmos, apenas impulsionados pelo karma gerado, as sementes de uma nova vida. Onde encararemos novamente toda essa batelada de ilusões...passo a passo...nascimento, velhice, doença e morte, até encontrarmos a verdadeira sabedoria e um bom mestre que nos ensinará a guiar a mente durante todos os estados mentais possiveis (estado desperto natural, estado meditativo luminoso, estado doloroso do morrer, e o estado carmico do vir-a-ser), nisso nos redicionamos rumo a dissolução da ignorancia, e assim iluminamos a vida, e buscamos ajudar os outros seres a atingir a sabedoria que dissolve o sofrimento ciclico.

Bom, penso que me alonguei demais
Om mani Padme Hum
Abraços

1 Comments:

At 10 August, 2006 06:13, Blogger setemaria said...

eu li tudo. continua sendo muito profundo pruma pessoa que não se conhece tão bem. quem sabe um dia eu chegue lá.

fala comigo no msn, eu vou responder se eu estiver. é que eu andei trabalhando essa semana. :*

 

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