Thursday, January 22, 2009

Rabiscos na ultima folha do caderno do ano passado

Olho para o calendário e vejo como encurtaram se os dias. Se antes eles ocupavam varias folhas, agora estreitam-se em quatro linhas. São os dias que faltam para eu embarcar para Sydney.

Acho que ninguem nasce naturalmente com o dom de se despedir. Saber dizer adeus é uma aptidão que surge das perdas, do aprender com a reciclagem da vida. Surge da aceitação da transitoriedade das coisas. E surge da obrigação de sobreviver as fronteiras onde a vida se remonta.

Essa viagem é um desafio para mim, meu vôo definitivo para fora do ninho. Eu lembro de ter escrito aqui uma vez algo como "onde foi que eu esqueci as minhas asas?". Pois é, resolvi dar um jeito de achar. Não, não significa que eu não vá voltar. Mas significa que tudo vai ser diferente amanhã.

Se a vida é como uma casa, antes de deixar a morada deve se fechar bem todas as janelas, e, nessa historia, em algum momento, o viajante depara-se com a casa esvaziada, trancada, sem as fontes de ar e luz. Uma solidão estranha...a solidão de quem vai se preencher de novo em outro lugar.

Tudo aqui agora me parece velho e gasto. Tudo estagnou e agora vai cessar por um tempo.

Não que isso seja triste. Acho que isso é Deus que faz, tira os obstaculos por piedade. Faz eu ir aliviado do peso das coisas e pessoas que me apeguei demais. Pedi por isso. Pedi arrego, pedi para que não fosse feito o meu desejo e sim o melhor para mim. E ele trouxe essa fronteira livre. Uma corrente de ar quente, asas e leveza.1

A ilusão se gastou, o mel aguou. A tristeza dissipou, a demanda cessou.
Não preciso de mais nada no momento

O condor voou

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Isso não quer dizer que eu não me assuste.
:O

Na verdade nada me assombrou mais do que o jeito como um conjunto de cinco ou seis frases matou de vez a ilusão que, já agonizante e sem forças, durava quatro anos.
Sem tristeza, e com alivio. Se despediu em mim.